sábado, 10 de dezembro de 2011


Infra-estrutura, logística e capacidade de organização de uma Copa do Mundo.
Artigo no Fique Alerta – www.fiquealerta.net

Por Marcos Bueno

Estamos às vésperas da Copa do Mundo de 2014. Estamos às vésperas? Mas ainda faltam 4 anos? Sim. Para um evento deste porte, 4 anos são a mesma coisa que 4 dias se compararmos com um evento - como organizar uma palestra ou uma festa qualquer. Ou seja, já está tarde demais para começarem a se mexer.

Começaremos pela cultura organizacional. Copa do Mundo não depende somente de estruturas físicas como estádios e hotéis (fatores estes que já são negativos na atual conjuntura). O Brasil antes de qualquer coisa deve saber trabalhar de forma organizada, com funcionários treinados e aptos a atender o nível de serviços exigidos por povos (e não só torcedores) de todo o mundo, com culturas e percepções diferentes de qualidade de serviços.

Até hoje não se vê no Brasil condições propícias sequer para vender ingressos de forma organizada, mínima que seja. As vendas em bilheterias atrasam, geram tumulto e muitas vezes os torcedores não conseguem um mínimo de informação adequada. Mesmo que você diga que o missivista não percebe que a maioria dos torcedores compra os bilhetes com meses de antecedência, vale lembrar que estes compram outros bilhetes (metrô, trem, avião) e que estas também estão sujeitas ao padrão brasileiro de desorganização. Vale lembrar que as poucas empresas que vendem ingressos pela internet sempre dão verdadeiro show de atrasos e confusões.

No quesito hotelaria, a situação já é bastante crítica. A única cidade que atende às condições exigidas pela FIFA é São Paulo, com disponibilidade de 41000 leitos. Agora vamos trabalhar com a hipótese bastante provável de um grupo formado por seleções como Alemanha, México e Japão (só para citar três times) caírem no mesmo grupo sediado em cidades como Cuiabá ou Manaus. A capacidade hoteleira de Cuiabá é por volta de 6700 leitos. A de Manaus é de 4000 leitos, com previsão de 9000 leitos para 2014.

A Alemanha costuma enviar por volta de 32000 torcedores para as copas. Talvez cheguem menos do que isso em 2014. Mas o número de mexicanos que visitam o Brasil todos os anos é por volta de 60000 e os japoneses por volta de 80000. Claro que não teremos este número por aqui na copa do mundo, mas qualquer pequena parcela deste público, somados com algumas poucas dezenas de milhares de alemães já dá para ter a certeza de que poucas cidades teriam condições de receber um grupo como este.

Na parte de infra-estrutura de estádios, a coisa está parada do jeito que vocês lêem na imprensa todos os dias. Mas vamos verificar o nosso histórico e descobriremos que somos craques em elaborar maquetes, mas projeto pronto que é bom, nada.

A maioria dos estádios custará entre R$ 400 e R$ 700 milhões. O Estádio da Fonte Nova, em Salvador, terá que ser totalmente reconstruído, dado que o mesmo desabou em 2007 matando sete pessoas. Em geral, o cronograma adequado para se construir um estádio é de 3 anos, considerando projeto, licitação, aquisição de materiais e construção. Acabamentos e ajustes finais, mais testes levariam um ano.

Isto significa que já estamos com um ano negativo de gerenciamento de projetos. Como estamos falando de praticamente 5 estádios novos e 7 grandes reformas, então o sinal vermelho já acendeu. No caso de Recife, há a necessidade de se erguer todo um bairro no contorno do estádio, pois até a infra-estrutura urbana de suporte é precária na cidade.

Mas se o leitor já está cansado de ler a respeito de deficiências, então levantarei mais algumas, tão graves quanto às anteriores.

Os governos e dirigentes mostram-se preocupados com o transporte urbano. Só se preocupam, pois nada foi feito no sentido de melhorar este gargalo. Não lembrem do Rodoanel, pois o mesmo serve para atender à uma demanda reprimida de cargas rodoviárias, não contemplando nossa necessidade específica da copa do mundo.

O metrô de São Paulo, que é o único com estrutura confiável, se já não comporta mais a demanda urbana do dia a dia, que dirá em uma copa do mundo. É rotina diária o procedimento da cia mandar uma composição vazia lá pelas 7h 30min da manhã com destino à estação Penha, dada a superlotação da estação neste horário. Não adianta o torcedor mais fanático alegar que este não é um horário de jogo, pois já presenciei, em pleno sábado à tarde, diversos atrasos devido à superlotação.

Se o torcedor tiver que contar com o transporte público como ônibus, basta perguntar para qualquer torcedor que toma ônibus na Penha com destino ao estádio do Morumbi e ele dirá em que condições ele é transportado e quanto tempo demora a epopéia. Se você contar com um automóvel, prepare-se para o rally do trânsito e a aventura de deixar seu veículo à mercê de manobristas alternativos informais.

Agora, se o dia em São Paulo for de chuva torrencial, prepare-se, pois talvez você não chegue ao seu destino. Incrível é que este problema não ocorre mais somente em São Paulo. Recentemente cidades como Rio de Janeiro, Salvador e os estados do Paraná e Santa Catarina apresentavam estado de calamidade por causa das chuvas. Percebe-se que a fragilidade nossa é grande.

Para terminar, vou lembrar do apagão aéreo. Basta um aumento qualquer na demanda para que filas enormes sejam formadas nos saguões dos aeroportos e os atrasos surjam normalmente num passe de mágica. Muitos gestores aeroportuários já avisaram que a maioria dos aeroportos brasileiros deveriam ser ampliados em 65%. Mas alguém aqui já ouviu falar ou ver os projetos de ampliação?

Em recente entrevista com o ministro do Esporte Orlando Silva, publicada pelo Estado de São Paulo, percebi que ele estava a par de situações como renúncia fiscal, valores investidos e linhas de financiamento do BNDES. Mas a respeito de ações concretas, só li evasivas e promessas.

Leciane Lopes , H00005 - Gestão hospitalar.

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